sexta-feira, 12 de junho de 2009

MEMORIAL DE LEITURA

MEMORIAL DE LEITOR

Por

José Washimgton Torres da Silva


O inicio


Sou o segundo filho de uma família de quatro irmãos. A escola me chegou um pouco tarde, pois o Povoado onde morava, não havia Creche ou Jardim de infância. Filho de pais agricultores e com pouca escolarização. E para dificultar, ainda mais, não morava na sede do Povoado.

Só fui para a escola aos sete anos de idade, ou seja, no ano de 1984 e direto para uma turma de 1ª série. Lembro-me muito bem, que a professora era uma de minhas tias. Não me recordo de ter tido contato algum com nenhum livro e só na 2ª série, após ter repetido o ano. Fato que me marcou muito, pois o único culpado foi o meu pai que não dava importância alguma para os estudos, preferia que trabalhássemos ao invés de estudarmos. E assim foi, ficamos reprovados eu e minha irmã mais velha.

No ano seguinte na mesma 2ª série, mas com uma professora diferente, por que a anterior tinha sido muito ruim, bastante autoritária, jogava giz e esponjas nos alunos e boa parte da turma nutria por ela muita raiva ao ponto de solicitar da Secretaria de Educação no ato das matriculas para mudar a professora e assim foi feito para o bem de muitos alunos, inclusive eu e minha irmã.


A Professora


O nome da nossa nova professora era Maria Vieira, mais conhecida por Lilia, que carinhosamente chamo até hoje. Suas aulas eram diferentes e antes de chegar ao meio do ano lá lia as primeiras palavras e quando me percebi no mundo da leitura e da escrita, mau primeiro ato, me lembro muito bem, foi escrever um bilhete agradecendo-a.

O primeiro livro emprestado por Lilia, minha professora inesquecível, foi uma Bíblia para criança com capa vermelha e que contava desde a Criação do Mundo até a morte de Jesus.

Foi com esta professora que tive muitas aulas especiais, pois parece que ela estava à frente do seu tempo. Suas aulas nos levavam a refletir, já recostávamos, colávamos, tínhamos aula de campo, cantigas de rodas, parlendas, os clássicos da literatura, apesar de não termos biblioteca, mas a meu ver, a professora nos supria esta necessidade. Ela era uma pessoa muito meiga, e ainda é. Mesmo com todas as brigas que minha mãe tinha com meu pai para que não parássemos de estudar foi com certeza um dos melhores anos da minha vida, enquanto aluno. As brigas com meu pai eram diárias, ao ponto de meu pai bater em minha mãe, mas pouco tempo depois ficamos livres destes sofrimentos. Minha mãe não agüentando mais se separou de meu pai e com muito sofrimento não deixou mais eu e meus três irmãos sem nenhum dia de aula e por ironia do destino, não fomos mais reprovados em série alguma e todos concluíram os estudos com muitas dificuldades.


A Primeira Escola


O nome da minha primeira escola era ESCOLA MUNICIPAL LEOPOLDO PEREIRA e antes que concluísse a 4ª série ela passou a se chamar ESCOLA MUNICIPAL JOAQUIM CORDEIRO e é chamada até hoje. Uma escola muito simples, fundada nos anos 70 pelo Prefeito José Olimpio, é composta por apenas uma sala de aula, os banheiros e a cozinha. Mas foi nela que concluí a 4ª série, no ano de 1988. O contato com livros era basicamente os didáticos e um ou outro que os professores traziam.

E A primeira escola nos dois sentidos, pois foi nela que dei as minhas primeiras aulas no ano de 1996. Em virtude da morte de um professor, que tinha sido meu também, fui convidado para lecionar na 3ª e 4ª série. Era meu primeiro contato como professor, fiquei fascinado e sou professor até hoje.


O Ensino Fundamental (5ª a 8ª série)


No ano de 1989 começava um novo ciclo em minha vida de estudante, tudo era novo e diferente para mim. Uma criança com doze anos tendo que todos os dias, em cima de um caminhão, percorrer 36 quilômetros para chegar à nova escola: ESCOLA ESTADUAL DE 1º E 2º GRAU SENADOR DINARTE MARIZ. Junto comigo vieram mais 10 alunos, quanto à leitura não me acrescentou muito, pois a escola também não tinha biblioteca e minha leitura estava resumida a dos livros didáticos, pois vontade até que tinha de ler, mas minha mãe o que ganhava mal dava para nos alimentar e uma vez ou outra comprar algumas roupas, muito pouca mesmo. Nesses quatro anos de estudos foi muito sofrido, tivemos muitas vezes que andar a pé, levando chuva e sol, por que muitas vezes o carro quebrava e o jeito era chegar em casa a pé ou na escola.

Os anos se passaram e eu já me encontrava concluindo o Ensino Fundamental, minha mãe queria mais para mim e juntamente com uma tia que estava criando a minha irmã mais velha, desde que meus pais se separaram tiveram a ideia de fazer minha inscrição para uma Escola Técnica Federal, fiz a prova e passei.


O Ensino Médio

Emfevereiro de 1992 me deparei num lugar distante, cerca de 250 quilômetros de São Bento do Norte, numa Escola chamada Colégio Agrícola de Jundiaí, ligada a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, localizada na cidade de Macaiba/RN. Começava uma grande paixão por Língua Portuguesa, pois lá existia uma grande Biblioteca com muitos livros e os três anos que lá passei foram poucos. Encontrei-me com Drummond, Castro Alves, Auta de Souza, Nísia Floresta, Olavo Bilac, Fernando Pessoa, Euclides da Cunha e muitos outros.

O Professor marcante para mim foi um Professor de Biologia, chamado Dutra, homem de pouca conversa um metro e meio mais ou menos, bigode, voz serena, mas de uma personalidade sem igual. Foi ele o professor que tive maior admiração e exemplo de pessoa.

As aulas que considerava de maior importância eram as aulas de Orientação Educacional, pois elas mexiam com o interior do ser humano, enquanto que as aulas e o professor de cooperativismo não me acrescentaram em nada.

Os Os clássicos da Literatura brasileira foram o meu forte nos três anos que passei neste colégio. Fim de 1995 retornava a minha cidade natal com o canudo de técnico em Agropecuária, mas desempregado. Via a tristeza no olhar de minha mãe, que sonhava me ver empregado para ajudar a terminar de criar os meus dois irmãos mais novos. Os meses se passavam e nada de emprego e só inicio de 1996 abriu inscrição para o concurso de Agente comunitário de Saúde fiz e passei, e antes que assumisse, morreu num acidente de motocicleta um professor do nosso povoado, já havia sido meu professor na 3ª e 4ª série e além de uma tia minha não havia mais ninguém com Ensino Médio, tendo ela recusado o convite me procuraram e eu topei.

O primeiro bimestre estava terminando. Apliquei as provas e iniciei o segundo bimestre continuando as aulas. Além de professor, no ano seguinte, fui nomeado Diretor da mesma escola que tinha dado os meus primeiros passos como aluno há treze anos.



A A Universidade


Meado do ano de 1998, já cursando o segundo ano magistério surgiu à oportunidade de fazer vestibular, mas tudo parecia muito distante a começar pela mensalidade, que na época o que ganhava não dava para pagar, porém fui muito incentivado pela Secretária Municipal de Educação daquela época ao ponto de me levar até o Secretário de Administração para estudar uma forma de me ajudar, resumindo fiz o vestibular e passei, na época fui o único de São Bento do Norte.

No mesmo ano comecei, e ainda concluindo o Magistério à noite e tendo que dar aula em dois expedientes e ter que ir para a Capital do estado todas as sextas-feiras e sábados para cursar Letras pela Universidade Potiguar.

Tu Tudo muito novo e assustador até, mas os meses se passaram e logo estava adaptado àquela correria, pois me encontrava sendo Agente Comunitário de Saúde, Professor, aluno do magistério e Acadêmico. E o que era pior que toda semana tinha que me deslocar até natal para Cursar sexta-feira tarde e noite e o sábado até as 13 horas em regime especial um curso superior.

A Apesar do cansaço as aulas eram maravilhosas e de cara me apaixonei pelas aulas de Linguística com a professora Maria das Neves e Literatura Portuguesa pela Professora, uma portuguesa, com menos de metro e meio, Conceição Flores foram os meus exemplos de professoras nesse período. As leituras eram muitas, mesmo com muito pouco tempo, mas era sagrado fazê-las, primeiro por que gostava e segundo era necessária.

As Bibliotecas dos Campos Universitários eram imensas e pelo menos uma vez por ano passavam por fiscalização do MEC. Muito grande os acervos, sempre estava com livros emprestados, pois ganhava pouco e tinha mesmo que pegar emprestado para realização dos trabalhos. Dentre muitas leituras Saramago foi o escritor que mais me marcou.


Os dias de hoje


Considero-me um bom leitor, pois sempre estou lendo alguma coisa, seja na minha área ou não. E desde o ano de 2001 que faço parte de Programas de Formação Continuada e é um dos grandes responsáveis pela minha vida de leitor. Tudo começou com os PCN’S em Ação, depois veio o PROFA, na sequência o Pró-Letramento e agora o Gestar II.

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